Os esquecidos
A partir do momento em que Telly e Ash levam o caso à polícia local, entram em cena agentes federais da Agência de Segurança Nacional (NSA) na sua forma cinematográfica mais estereotipada: pessoas com sobretudos, em carros escuros sem identificação, levando pessoas sob custodia enquanto dizem que não têm liberdade para “discutir o assunto”.
Enquanto isso, a polícia local, liderada pela investigadora Anne Pope (Alfre Woodard), nada mais faz do que chegar nas cenas de crimes e coçar a cabeça enquanto tenta em vão dar sentido a tudo.
Mas das sombras emerge uma figura desconhecida (Linus Roache) com feições imóveis que parece se interessar por Telly e Nash, observando-os atento, com um olhar fixo e sinistro.
O que parecia um thriller policial muda de figura, principalmente quando um dos agentes da NSA começa a revelar para Telly e Ash o segredo por trás do desaparecimento das crianças naquele voo – ele é violentamente sugado para o céu, junto com o telhado, numa cena bizarra e inesperada. Na verdade uma cena que cheira a um “Deus Ex Machina” – expressão aplicada para roteiro mal conduzido no qual uma sequência-chave exige uma solução arbitrária e inverossímil para a dar continuidade à narrativa.
Realidade é esquecimento consensual
A narrativa simplista e arbitrária de Os Esquecidos deixa mais esquemático os clássicos elementos do filme gnóstico. Apesar de tudo, um filme excelente para estudiosos desse gênero de filme.
Aproximando do final, principalmente depois da bizarra cena “Deus Ex Machina”, descubramos que há alguma experiência de abduções alienígenas em andamento. E o que é pior: os agentes federais nada mais fazem do que dar cobertura para essas experiências extraterrestres.
A virtude do filme é não cair no célebre clichê em associar abduções com experiências genéticas aliens com seres humanos. Os propósitos são mais “espirituais”: o misterioso alien que observa tudo das sombras quer estudar a especificidade do vínculo entre mães e filhos terrestres. Eles até conseguiram quantificar esse vínculo. Mas sabem que há algo mais qualitativo ou espiritual.
Temos aqui ecos do filme Cidade das Sombras no qual seres humanos são confinados em uma cidade cenográfica para que os aliens estudem a alma humana.
Também Os Esquecidos se filiam a mudança dos filmes gnósticos no século XXI: dos filmes CosmoGnósticos como o Cidade das Sombras (a ilusão do mundo é criada tecnologicamente pela realidade virtual, como em Matrix – ilusão consensual), passamos para os PsicoGnósticos – a ilusão da realidade criada pelos traumas do psiquismo.
Os Esquecidos sugere que a realidade não passaria de uma espécie de “esquecimento consensual”. Demiurgos (sejam aliens, Estados totalitários, corporações etc.) nos impõe o esquecimento, a base da consciência feliz.
Mas algumas pessoas ainda conseguem reter fragmentos dessas memórias deletadas, criando o mal estar e, por fim, a paranoia – ao lado da melancolia e do estranhamento (a sensação de ser estrangeiro em ambientes familiares), a paranoia é um dos estados alterados de consciência que possibilitariam o despertar do sono do esquecimento.